sexta-feira, 29 de abril de 2011

Força extra na academia pode custar caro à saúde

Um suplemento para tomar antes do exercício físico virou febre nas academias de ginástica. Com o nome de Jack3d, o produto promete dar energia, mais disposição e força na malhação e, como resultado final, aumentar a massa muscular. Mas surgem controvérsias sobre o estimulante, que não tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 
Nos sabores lima limão, uva, frutas tropicais e framboesa, o suplemento, em pó, é vendido no "mercado negro" das academias e na internet por valores entre R$ 140 e R$ 200. No boca a boca, a recomendação é ingerir diariamente, até 40 minutos antes da musculação. 
"A orientação é tomar de uma a duas doses (o escopo de medida vem dentro da embalagem) misturadas com água. Pela quantidade grande de creatina, tem gente que está tomando a cada dois dias porque é muito potente", conta um aluno de uma academia de Vila Velha. 
No rótulo, os ingredientes descritos incluem proteínas e aminoácidos como methylhexaneamine, dibenzo, beta-alanina, teofilina, creatina e arginina. A cardiologista Isa Bragança, especialista em Medicina do Esporte e diretora da Clínica Médica Desportiva na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, alerta para o fato de que as pessoas estão tomando por conta própria um produto que nem se tem certeza do que é. "Esse estimulante também está sendo usado no Rio. As substâncias afetam o sistema nervoso simpático, aumentando a frequência cardíaca. A médio e longo prazo, quem tem tendência a hipertensão, diabetes e problemas cardíacos e de tireoide podem desencadear essas doenças", explica a médica. 
O cardiologista e especialista em Medicina do Esporte Tiago de Melo Jacques alerta para duas substâncias que estão no Jack3d: creatina e teofilina. "A creatina pode sobrecarregar os rins e as doses altas de teofilina, apesar de facilitarem a entrada de aminoácidos na musculatura, causam tremor nas mãos e pode induzir a uma arritmia cardíaca", diz o médico. 
Já tem gente tomando Jack3d até para aguentar testes físicos em concursos, como se fosse uma bebida energética, afirma o personal trainer Diego Zanon. O profissional diz que também há risco de lesões e dores após os treinos, já que as pessoas acabam exagerando nos exercícios.
O Jack3d na internet

"Desde o segundo dia que sinto os formigamentos antes do treino, e os pesos já estão aumentando consideravelmente"

"Hoje tomei 3 scoops de jack3d. Já tô fervendo de calor"

"Senti formigações pelo corpo (mãos, pernas, cabeça) e a vontade de ir para academia treinar tão gigante que eu até saí de casa correndo"

"Tive um efeito colateral que foi uma taquicardiazinha. Então, quem tem problemas cardíacos pode ir tirando da cabeça esse produto"

"Hoje é meu segundo dia. Ingeri aproximadamente 7,5 g antes do treino. Treinei costas e bíceps hoje, sendo que logo no primeiro exercício fique TONTINHO da silva! 

"Tive uma pequena tremedeira logo após tomar o produto; e após o treino tive um mal- estar absurdo, pensei que iria vomitar e desmaiar"
Componentes não são autorizados 
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) esclarece que o Jack3d é um produto comercializado nos Estados Unidos como suplemento dietético e que não está autorizado para comércio no Brasil como alimento devido à sua composição e finalidade de uso. O órgão também alerta que alguns dos compostos do produto não estão autorizados para uso em suplementos no Brasil (arginina, alfacetoglutarato, beta alanina e 1,3 dimetilamilamina) e não possuem segurança de uso demonstrada. Outros estão autorizados como alimentos para atletas, mas de forma isolada, e desde que atendam aos requisitos específicos de composição e rotulagem (creatina e cafeína). Além disso, o rótulo precisaria ser em português. Alguns ingredientes também não são aprovados pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão do governo americano que faz o controle de alimentos, 
medicamentos, suplementos e cosméticos no país.